Ignorar as necessidades do seu parceiro ou parceira pode levar seu relacionamento para a ruína. Não se fala em comunicação não violenta, comunicação assertiva, nem comunicação com inteligência emocional sem passarmos pela questão da empatia. Todas as técnicas que ensinam a arte de se comunicar bem envolve de alguma forma a prática de se colocar na posição do outro e tentar sentir e pensar sob o prisma do outro.
Conforme Marshall Rosenberg, criador da técnica da comunicação não violenta, empatia é a compreensão respeitosa do que os outros estão vivendo. Tente não julgar, você não precisa categorizar a pessoa com quem você conversa, ela é ela, dentro do mundo e da realidade dela, então procure entender o que essa pessoa está, de fato, tentando transmitir.
É preciso abandonar aquele velho hábito de julgar e condenar a pessoa com quem conversamos em fração de segundos. Achar que você é capaz de fazer uma leitura completa do outro em poucos instantes não é subestimar essa pessoa? Que tal “abaixar um pouco a bola” e perceber que as pessoas podem ser e ter muito mais a dizer do que você é capaz de deduzir em alguns minutos? Que tal desenvolver um olhar mais aprofundado?
Na comunicação, escutar de forma empática, é escutar tentando compreender, prestando atenção verdadeira naquilo que o outro tenta transmitir. Escutar vai muito além do que escutar com o ouvido, é preciso escutar com todos os seus sentidos, escute também com seu intelecto, escute com a alma. A sua alma pode mostrar a você o que aquela pessoa está sentindo.
Preste atenção na linguagem não verbal, ou seja, nos gestos e na expressão corporal que podem revelar mais do que as palavras. Muitas vezes a pessoa escolhe as palavras erradas, mas está tentando dizer outra coisa (clique aqui e assista nosso artigo – CASAMENTO – DIFICULDADES DE COMUNICAÇÃO?).
Gente, eu já perdi a conta de quantas vezes percebi meu marido lutando para me convencer que o que ele queria dizer com aquelas palavras não era exatamente o que eu entendia delas. Leve em conta que os homens, em geral, não são tão habilidosos em articular palavras e tem dificuldade de expressar sentimentos.
Vou dar um exemplo: Um dia ele disse: Amor, você não é mais tão sensual como na época que te conheci. Ele queria dizer que eu não estava usando mais a sainha curta e os decotes que ele me via usando há 18 anos atrás e isso é uma verdade, porque com o passar dos anos eu mudei bastante meu estilo de roupa. Mas no momento em que ele disse aquilo eu escutei a seguinte mensagem:
Eu não sinto mais tanta atração por você, você não é mais aquela mulher interessante e bonita que conheci. Não é? Porque afinal ele disse: ”Você não é mais sensual…”. Leitor(a), pense na briga que aconteceu!
Eu me senti a mais horrorosa, a mais desprezada. E tudo que ele queria dizer era que estava com saudades da minha mini saia de couro. Ele tem direito de sentir saudade da mini saia, não tem? Agora, quer a verdade? Voltei a usar a minissaia, não estou nem aí para quem pensa mal de mim, pensando porque a quarentona está dando uma de menininha? Para mim o que importa é a opinião do meu marido e a minha, é claro.
Outro exemplo: Eu vivo fazendo generalizações injustas com ele, usando as palavras tudo, nada, nunca, sempre. É um erro meu, que preciso corrigir urgente. Quer um exemplo? Eu digo: “Amor, você NUNCA me dá atenção”, quando eu quero dizer na verdade: “Amor, hoje você tá muito no telefone, trabalhou por horas e estou me sentindo um pouco carente, quero sua atenção agora”.
Se ele se restringir a ouvir a seleção de palavras que eu escolhi, pode até ficar com raiva, por ter a impressão de que eu estou querendo controlar o tempo que ele se dedica ao trabalho, entende? Se ele usar de empatia, vai perceber que eu estou carente, na verdade, doida por um carinho, um beijo. A forma errada de eu escolher as palavras pode causar o efeito contrário que eu desejo, porque ao invés de o aproximar, eu vou afastá-lo.
Então procure pensar como o outro está se sentindo, quais outros sentimentos podem estar por detrás do seu comportamento e das palavras usadas.
É legal ir confirmando como o outro se sente, para verificar se você realmente entendeu o que ele quis dizer. Você pode perguntar assim: Deixa eu ver se entendi direito, você está precisando que eu faça isso, isso e isso? Você está se sentindo irritado por causa disso e disso? Você está me pedindo pra mudar tais e tais aspectos porque se sente assim ou assado? Por meio da confirmação, poderá verificar se está no caminho certo da compreensão.
Enquanto seu parceiro fala, não fique na defensiva, nem conte algo semelhante que aconteceu com você, simplesmente acolha o que ele está querendo dizer de verdade. Rosemberg enumera alguns obstáculos que impedem que a gente se conecte aos outros com verdadeira empatia:
1º) Aconselhar: “Acho que você deveria…”, “Por que é que você não fez assim?”
2º) Competir pelo sofrimento: “Isso não é nada; espere até ouvir o que aconteceu comigo”. 3º) Educar: “Isso pode acabar sendo uma experiência muito positiva para você, 4º) Consolar: “Não foi sua culpa, você fez o melhor que pôde”. 5º) Contar uma história: “Isso me lembra uma ocasião…” 6º) Encerrar o assunto: “Anime-se. Não se sinta tão mal”. 7º) Solidarizar-se: “Oh, coitadinho…” 8º) Explicar-se: “Eu teria telefonado, mas…” 9º) Corrigir: “Não foi assim que aconteceu”. Pra falar a verdade, quando eu li que a gente não deve fazer nenhuma dessas oito coisas eu confesso que fiquei sem saber como agir. Porque nosso impulso sempre é de aconselhar, animar, encorajar, não é? A gente pensa que está fazendo o bem assim. Mas cada indivíduo é diferente do outro e nem todo mundo gosta do que você gosta ou precisa do que você precisa. Por exemplo, eu tenho uma amiga muito querida que detesta quando eu encho ela de conselhos. Ela diz que se sente como uma criança e eu a mãe, como se ela já não tivesse pensado em resolver o problema de mil formas. Ela é uma mulher muito dinâmica e independente, normalmente ela já tentou de tudo, então o que ela realmente quer de mim é ser ouvida. Então eu tenho aprendido a ficar caladinha enquanto ela fala e só dou uma ideia de como resolver ou um palpite se ela expressamente me pedir. O ideal é deixar a pessoa falar até que se esgote naturalmente o fluxo de ideias dela ou até que diminua a tensão e ela dê uma relaxada. Essa relaxada é um indício de que a pessoa se sentiu acolhida com empatia. Por fim eu quero explicar que a técnica da comunicação não violenta não diz que você deve aceitar tudo, dizer sim pra tudo e virar um verdadeiro capacho das pessoas. Ao contrário, a CNV ensina a perceber o que VOCÊ necessita e formular pedidos que sejam claros. Ter empatia não tem nada a ver com ser permissivo ou passivo demais. É perfeitamente possível que você diga não e imponha certos limites, em respeito ao que você quer e precisa também.
Eu vou dar um exemplo que acontece muito na nossa vida de casado também. Meu marido é de Minas Gerais, como o pai dele tem 86 anos e mora no estado mineiro, ele precisa viajar com frequência para ver meu sogro. Eu entendo bastante isso, porque acredito que ele deve curtir o pai ao máximo. Mas é claro que em alguns momentos, a ausência dele em viagem para ver o pai implica em aumentar a minha carga, porque vou ter que cuidar sozinha das crianças e de todas as tarefas que normalmente seriam divididas entre nós dois. Então eu vou fazer uma simulação de como seria nossa conversa sem aplicação da técnica CNV e como seria outra versão aplicando a CNV:
VERSÃO SEM CNV:
– Amor, eu vou esse fim de semana para Minas Gerais ver meu pai e vou ficar três dias por lá.
– Ah não, sério? Mas a semana que vem vai ser muito pesada pra mim, porque eu vou estar de plantão no trabalho, vou ralar muito! Como é que vou levar as crianças para a escola? E a geladeira tá vazia, eu estava planejando deixar as crianças com você na segunda para ir ao supermercado.
– Puxa você é muito incompreensiva! Se esquece que meu pai é idoso e como é importante pra mim visita-lo. Isso acontece porque seus pais moram aqui perto de você, então você não entende!.
E desenrola toda uma discussão exaustiva e entristecedora.
VERSÃO COM APLICAÇÃO DE CNV:
– Amor, eu sei que você está de plantão semana que vem e que vai ter uma semana muito cansativa, mas eu precisava muito viajar esse fim de semana para Minas Gerais para ver meu pai. Estou aflito e sentindo muita saudade dele. Estive pensando em pagar uma van pra levar as crianças e vou abastecer a despensa antes de viajar pra facilitar um pouco as coisas para você. O que você acha?
– Nossa amor, você está querendo viajar para Minas Gerais neste fim de semana porque está com muita saudade do seu pai né? Tem bastante tempo que você não o vê e ele já está bem idoso, eu te entendo. Mas realmente semana que vem vai ser muita pesada, vai coincidir também com o início da auditoria no meu local de trabalho e eu vou precisar muito do seu apoio.
– Sabe, é muito importante pra mim estar mais descansada nesse período e estou me sentindo meio tensa com essa auditoria, adoraria ter sua companhia nessa fase difícil. Será que poderíamos transferir sua viagem para a segunda-feira da semana seguinte, aí você fica mais tranquilo e pode até ficar uma semana inteira. O que você acha?
Bom vamos fazer análise desses diálogos? Percebe que na versão com CNV o meu marido explicou como se sentia e conseguiu fazer um pedido claro das necessidades dele? Em seguida, eu confirmei se tinha entendido a mensagem da forma correta e acolhi as necessidades dele, explicando que entendia que ele estava com saudades. Então ele já começa a se sentir compreendido, eu gero uma conexão com ele quando eu demonstro compreender os sentimentos dele. Depois eu nego o pedido e explico como estou me sentindo e quais as minhas necessidades naquela semana. Por fim, trago uma solução alternativa para ambos.
Dá para perceber a mudança no nível de reatividade e de irritação nos dois casos, não é? Pois é, esse é o maravilhoso efeito da técnica CNV no nosso relacionamento. Vamos praticar? Que tal praticarmos juntas? Inscreva-se no nosso site e receba mais dicas e técnicas para melhorar sua comunicação com o(a) parceiro(a).